Entrevista com o Arlequim Rock'n'Roll Band
(Concedida por ocasião da tournée européia da banda e realizada no salão de imprensa do Waldorf Hilton Hotel, Londres, Inglaterra.. um verdadeiro mosqueiro...Afff)
O que significa “Arlequim”?
Ok. Preste atenção. Você percebeu que no lado direito da janela do seu navegador tem uma “pistazinha” com um “bilotinho” dentro? É a Barra de Rolagem. Viu? Pronto. Vai lá com o mouse, clica sobre o “bilotinho” e arrasta ele para baixo até aparecer lá no fim desta página o “Manifesto”. Leia ele. Lá ta explicando tudo.
Entendi. Deu trabalho escolher o nome da banda?
Na verdade não muito.
Fizemos uma relação de 50 sugestões baseadas no que se costuma usar para rotular esse tipo de “conjunto musical”. De cara, descartamos logo os clichês do Metal e do Hardcore. Nada de “Facada na Carne”, “Vampiros Sem Dentes”, “Madrugada Ensangüentada” ou “Destruição em Massa”. Também descartamos os nomes de apologia regional. “As Pregas da Burra de Maria Bonita”, “Sutiã de Lampião”, “Coriscos e Balas” e “Suco de Xique-Xique” tava fora. Percebemos que o nosso som é amplo. Isso é quase uma obrigação para quem quer levar um “Rock’n’Roll Band” na frente do nome. Queríamos algo que retratasse mais que a amplitude do estilo. Queríamos algo que representasse toda a vastidão do Homem e de seus sentimentos. Não deu outra: O Arlequim era o personagem.
Foi consenso então?
Claro que foi. Principalmente depois que a maioria ameaçou a minoria com a expulsão da banda caso não aceitasse a idéia...
Mas como nasceu mesmo o lance de formar a banda?
Veio de uma raiva. Vocês já perceberam o caráter amadorístico (raras exceções) da maioria dos eventos Rock aqui na terrinha? Tanto de estrutura como de muitas das bandas que se apresentam. Muita gente acha que fazer Rock’n’Roll tem de ser assim, na tora, sem mais nem menos, de improviso mesmo. É o oposto. O rock exige certas condições para ser apresentado. Não importa o estilo. Aliás, quanto mais agressivo e distorcido mais requer de qualidade de sonorização e tudo. Se não for assim vira mero barulho. Pra piorar existe uma concentração muito grande de bandas em determinados nichos do rock enquanto que em outros nem uma. Conhece alguma banda de Rockabilly aqui por perto? Nem umazinha que dê pra fazer um chá. E como fica o pessoal que curte Rockabilly? Vai esperar viajar a um grande centro ou a ressureição do Presley? Pensamos: porque não tentar uma banda que tocasse o maior número possível de estilos? Uma banda que se preocupasse com sua sonoridade. Uma banda que exigisse estrutura, mesmo que básica, para se apresentar. Uma banda que reclama pra si o mesmo tratamento que é dispensado às bandas de, por exemplo, MPB. Uma banda que, sem perder a espontaneidade, se preocupasse em produzir um show que tenha começo, meio e fim. E, principalmente, uma banda onde seus músicos começassem a encher a cara no palco somente lá pro final do show...
Esse negócio de tentar tocar de tudo não compromete a identidade da banda?
Pra falar a verdade estamos cagando e andando pra esse lance de “identidade” da banda. Claro que temos nossas preferências individuais que vão do Rockabilly, passando pelo Punk até o Progressivo. Mas tudo bem... Se torturarem bastante a gente para, de público, assumir um estilo deixa com a gente. O Arlequim faz ROCK'N'ROLL... e ponto final.
Pinta uma vontade de gravar no futuro? CD e coisa e tal??
Absolutamente nenhuma. Gravar um CD é a coisa mais fácil e besta do mundo, hoje em dia. O difícil é fazer com que as pessoas coloquem esse CD no player e aumentem o volume. Não gostaríamos de gravar um trabalho que rodaria somente em nossas casas, na casa da mãe da gente (e olhe lá) e na Associação dos Surdos.
A banda se relaciona com drogas?
Claro que sim. Todos os dias. Vivemos numa DROGA de país, somos obrigados a ouvir um monte de DROGAS rolando nas rádios e ainda agüentamos um monte de gente votando sem sacar DROGA nenhuma e entrevistadores idiotas fazendo DROGAS de perguntas como essa. Alguém já viu alguém perguntar a uma banda de forró ou uma roda de samba se curtem drogas? Mas como essa é de rock então...
Olha, tô falando de tóxicos e coisa e tal...
Áááááhhhh, entendi... “baseado”, “carreirinha de pó” e tudo o mais... Não. Na verdade achamos isso uma bosta muito grande. E o pior é que atrelaram essa merda ao Rock’n’Roll. O foda é que muita gente de dentro do universo rock acredita que pra ser “clássico” tem de meter a cara na coisa. O cara do The Doors fez, o Hendrix fez, a Joplin também, então vou atrás do mesmo jeito. Então, idiota, morre de overdose e faz o serviço completo. Olha, não acreditamos num monte de caras chapados, encostados no meio fio “desafiando o Sistema”. Compadre, o Sistema tá adorando ver isso. Peitar o Sistema é crescer como pessoa e como profissional. Aí então o negócio é fazer parte dele (do Sistema) não se deixando seduzir por miragens. E depois que estiver imerso, roê-lo e corroê-lo por dentro. Isso é desafiar o sistema.
Nada de drogas então?
Também não é assim. Na verdade, vamos confessar. Somos químico-dependentes: de cerveja, vodka, whisky, caipirinha, vinho branco e tudo o que carregue álcool. Mas só nos fins de semana. Aí então, brother, quando nos reunimos pra “bebemorar” algo, consumimos uma quantidade de birita que colocaria em coma alcoólica toda a população da China. Isso só no fim de semana...hehehehehe
Mudando de assunto, como é esse lance dos “medleys”?
Rs rs rs rs... É verdade. Temos um bocado deles no repertório. Funciona assim: A gente começa a montar uma música. Chega em determinada parte, alguém percebe que dá certinho enfiar outra na mesma frase melódica. Coloca-se. Aí, pinta um que acredita que naquele arranjo caberia aquela outra música... Mais uma... Nessa pisada temos nada mais, nada menos que 5 medleys no set list – no repertório da banda. Um de clássicos do Hard Rock, outro que mistura Blues e MPB, mais outro de Rockabilly e... deixa pra lá... Tamo entregando o ouro.
A banda cobra cachê em suas apresentações?
Somente as realizadas na Europa e na América Anglo-Saxã. No Extremo Oriente não nos apresentamos. É longe e não dá tempo pro pessoal chegar em casa e ir pra Universidade. Mas aqui no Terceiro Mundo, por enquanto, não cobramos nada. A falar a verdade, tamo quase pagando pra tocar. Mas deixa estar. Sabe aquele negócio da primeira dose ser de graça? Pois é. Depois que a gente começar e a turma se acostumar, começaremos a encher os bolsos de ouro e prata.
Falando nos shows, o que é o “Projeto Arlequim”?
Muito legal a pergunta. Vocês já perceberam que o ouvinte de Música Erudita, ou de Jazz, por exemplo, mesmo não tocando nada conhece bem o estilo que ouve, os instrumentos envolvidos e o desenvolvimento daquela estética musical? Pois bem. Poucos são os ouvintes de rock que conhecem sua História, as técnicas usadas em sua execução e tudo o mais. Assim criamos o “Projeto Arlequim”. Quando nos propomos a tocar em outra cidade levamos, junto com o show, a palestra “História Social do Rock’n’Roll” e as oficinas de guitarra, contrabaixo e bateria. Tudo voltado para “não músicos” ou iniciantes. E agimos junto às instituições também. Variações do projeto já foram apresentadas à Secretaria de Educação do Município com ótima receptividade. Também no Centro de Formação de Professores e no Núcleo de Cultura-NEC, ambos desdobramentos da UFCG.
Diego, porque o contrabaixo?
Porque odeio bateria e as guitarras já estavam ocupadas. Só sobrou aquela merda. Sério agora. Gosto do baixo. Do seu timbre forte e sem o qual não existe qualquer música. É um instrumento fascinante. E com um overdrive ligado então ... Sai de baixo, se me perdoam o trocadilho, he he he... Mas também faço guitarras e violões.
Essa vai pro João Paulo, o Japa... Japa você é conhecido por vir de uma banda que prioriza o Hardcore e seus correlatos. Como é pra você encarar a proposta do Arlequim que traz em seu bojo um largo leque de estilos e sons?
Olha, se você olhar o meu perfil, aqui mesmo no blog da banda, vai perceber que ouço de tudo. Não faço restrições a estilos e sons... Comecei mesmo tocando pop-rock lá no CEFET. O Hardcore me ensinou muito a nível de disciplina na condução, precisão nas viradas e coisas do tipo. Então pra mim é uma festa tocar com os caras do Arleca. Viajar por outras praias é sempre muito legal. Quando você pensa que não, pow, muda de batida, muda de época. O Arlequim é uma escola pra todos nós que o fazemos.
Agora a "puta velha". Paccelli. Você é o mais experiente de todos. Como fica fazer parte de uma banda onde todo o resto do pessoal tá iniciando?
Olha, é um barato. Com o tempo, a idade, a gente se apega a certas posturas, torna-se um tanto quanto “rígido”. A molecada injeta novos horizontes, flexibiliza a coisa. O que não aprendi de música com esses meninos não está escrito. Se engana quem pensa que a banda gira em torno da “puta velha” do pedaço. O repertório é sugestão de todos. É consensual. As músicas que rolam no show são filtradas pela aprovação dos quatro. Quando alguém sugere algo, não tem aquela de aceitar por educação. A frieza de um já é sinal para que ela – a música sugerida - caia fora. Tive um monte de sugestões não aceitas... E detonei algumas também, he he he... Vocês vão se surpreender com esse pessoal. Tenho o maior orgulho de dividir o palco com eles todos...
Pra terminar. O que o Arlequim tem a dizer ao público, nesse momento?
Sem hesitar, o nosso imenso MUITO OBRIGADO . A todos os amigos e amigas do Orkut, aos que mandam e-mails, que vão aos ensaios. Não sabem como isso é importante pra gente. Suamos um bocado na montagem desse sonho. O Diego e o João Neto trabalham dois expedientes e ainda estudam de noite. O Paccelli tem a Universidade, seus livros, suas crônicas. A Samara trabalha e ainda tem a Maya Jordana (sua filha, onde o Paccelli teve uma fugaz participação na produção) pra olhar. Desde fevereiro que ensaiamos e estudamos nossos instrumentos. Todo fim de semana. O máximo de intervalo entre esses encontros nunca passou de 15 dias. Tudo isso pra montar um show de “responsa”, contestador, mas alegre e solto.
E olha que pintaram dificuldades e decepções. Ainda não estreamos e todos sabem o motivo. Na primeira vez, caiu uma chuva quando a banda, se apresentando ao ar livre, estava na música 1 do repertório. Resultado: 3 minutos de show e ba-báu... Depois, no dia da outra apresentação, a Maya Jordana (filha do Paccelli e da Samara, já se disse aqui) teve de ser hospitalizada. Não bastando isso tudo, recentemente roubaram uma guitarra que a gente comprou em conjunto. Mas tudo bem. O trabalho continua. Tivemos de recusar alguns convites. Não por nos julgar importantes, os reis da bolacha preta. Mas pedimos um mínimo de estrutura nas apresentações. Temos a obrigação de valorizar o estilo musical que representamos (o Rock'n'Roll) e, principalmente, o público que tanto nos apóia. Por ele o Arlequim existe. E por ele continuará trabalhando e buscando a superação. Mais uma vez, muito obrigado aos amigos e amigas.
Longa Vida ao Rock’n’Roll.
"Arlequim"... O nome é mais que apropriado. O “Arlechino” é um personagem que remonta ainda aos
fins da Idade Média, quando a “Comedia Dell'Arte” envolvia multidões nas feiras. De forma satírica, desfilavam pelo palco os desajustes de uma época, os conflitos entre as classes sociais, além da teia de sentimentos e sensações onde se debatem homens e mulheres.
Do vasto elenco da “Comédia”, o “Arlechino” se sobressai. Vestido em retalhos, ele incomoda e deturpa... Engana e é enganado. Em momentos, é a vítima... Em outros, o carrasco. Em momentos, chora... Em outros faz chorar. O “Arlechino” da “Comedia Dell'Arte” é, portanto, o reflexo de todos nós... E assim é a proposta do Arlequim Rock’n’Roll Band. Nossa música é formatada em retalhos de todas as cores e nuances. E tinha de ser assim. Mais que um estilo musical, o Rock’n’Roll é uma constelação de formas e matizes. Talvez exista somente uma “atitude rock”. Mas - musicalmente falando – é engano pensar em um único Rock’n’Roll. A performance do Arlequim Rock’n’Roll Band pretende demonstrar essa variedade de formatos... Podemos levar você a mergulhar no mais profundo de si próprio através da harmonia misteriosa do Rock Progressivo... Mas de imediato lhe resgatamos para o ambiente festivo, óbvio e descomprometido do Rockabilly... É possível expor toda a rigidez do Punk Rock, para, logo então, contrasta-la com a flexibilidade do New Wave... Baixo e guitarras podem gritar com a violência dos “overdrives” abertos, emoldurada pela marcação impactante da bateria. Mas é provável, na seqüência, ouvir o mais delicado timbre “clean” conduzido por uma marcação percussiva discreta e suave... Afinal, somos o Arlequim e suas mil personalidades.... Somos o Palhaço e sua negra e ácida lágrima que se derrama por somente um lado de sua face. E lembre-se que, confortavelmente, nos vestimos de retalhos...
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O que significa “Arlequim”?
Ok. Preste atenção. Você percebeu que no lado direito da janela do seu navegador tem uma “pistazinha” com um “bilotinho” dentro? É a Barra de Rolagem. Viu? Pronto. Vai lá com o mouse, clica sobre o “bilotinho” e arrasta ele para baixo até aparecer lá no fim desta página o “Manifesto”. Leia ele. Lá ta explicando tudo.
Entendi. Deu trabalho escolher o nome da banda?
Na verdade não muito.
Fizemos uma relação de 50 sugestões baseadas no que se costuma usar para rotular esse tipo de “conjunto musical”. De cara, descartamos logo os clichês do Metal e do Hardcore. Nada de “Facada na Carne”, “Vampiros Sem Dentes”, “Madrugada Ensangüentada” ou “Destruição em Massa”. Também descartamos os nomes de apologia regional. “As Pregas da Burra de Maria Bonita”, “Sutiã de Lampião”, “Coriscos e Balas” e “Suco de Xique-Xique” tava fora. Percebemos que o nosso som é amplo. Isso é quase uma obrigação para quem quer levar um “Rock’n’Roll Band” na frente do nome. Queríamos algo que retratasse mais que a amplitude do estilo. Queríamos algo que representasse toda a vastidão do Homem e de seus sentimentos. Não deu outra: O Arlequim era o personagem.
Foi consenso então?
Claro que foi. Principalmente depois que a maioria ameaçou a minoria com a expulsão da banda caso não aceitasse a idéia...
Mas como nasceu mesmo o lance de formar a banda?
Veio de uma raiva. Vocês já perceberam o caráter amadorístico (raras exceções) da maioria dos eventos Rock aqui na terrinha? Tanto de estrutura como de muitas das bandas que se apresentam. Muita gente acha que fazer Rock’n’Roll tem de ser assim, na tora, sem mais nem menos, de improviso mesmo. É o oposto. O rock exige certas condições para ser apresentado. Não importa o estilo. Aliás, quanto mais agressivo e distorcido mais requer de qualidade de sonorização e tudo. Se não for assim vira mero barulho. Pra piorar existe uma concentração muito grande de bandas em determinados nichos do rock enquanto que em outros nem uma. Conhece alguma banda de Rockabilly aqui por perto? Nem umazinha que dê pra fazer um chá. E como fica o pessoal que curte Rockabilly? Vai esperar viajar a um grande centro ou a ressureição do Presley? Pensamos: porque não tentar uma banda que tocasse o maior número possível de estilos? Uma banda que se preocupasse com sua sonoridade. Uma banda que exigisse estrutura, mesmo que básica, para se apresentar. Uma banda que reclama pra si o mesmo tratamento que é dispensado às bandas de, por exemplo, MPB. Uma banda que, sem perder a espontaneidade, se preocupasse em produzir um show que tenha começo, meio e fim. E, principalmente, uma banda onde seus músicos começassem a encher a cara no palco somente lá pro final do show...
Esse negócio de tentar tocar de tudo não compromete a identidade da banda?
Pra falar a verdade estamos cagando e andando pra esse lance de “identidade” da banda. Claro que temos nossas preferências individuais que vão do Rockabilly, passando pelo Punk até o Progressivo. Mas tudo bem... Se torturarem bastante a gente para, de público, assumir um estilo deixa com a gente. O Arlequim faz ROCK'N'ROLL... e ponto final.
Pinta uma vontade de gravar no futuro? CD e coisa e tal??
Absolutamente nenhuma. Gravar um CD é a coisa mais fácil e besta do mundo, hoje em dia. O difícil é fazer com que as pessoas coloquem esse CD no player e aumentem o volume. Não gostaríamos de gravar um trabalho que rodaria somente em nossas casas, na casa da mãe da gente (e olhe lá) e na Associação dos Surdos.
A banda se relaciona com drogas?
Claro que sim. Todos os dias. Vivemos numa DROGA de país, somos obrigados a ouvir um monte de DROGAS rolando nas rádios e ainda agüentamos um monte de gente votando sem sacar DROGA nenhuma e entrevistadores idiotas fazendo DROGAS de perguntas como essa. Alguém já viu alguém perguntar a uma banda de forró ou uma roda de samba se curtem drogas? Mas como essa é de rock então...
Olha, tô falando de tóxicos e coisa e tal...
Áááááhhhh, entendi... “baseado”, “carreirinha de pó” e tudo o mais... Não. Na verdade achamos isso uma bosta muito grande. E o pior é que atrelaram essa merda ao Rock’n’Roll. O foda é que muita gente de dentro do universo rock acredita que pra ser “clássico” tem de meter a cara na coisa. O cara do The Doors fez, o Hendrix fez, a Joplin também, então vou atrás do mesmo jeito. Então, idiota, morre de overdose e faz o serviço completo. Olha, não acreditamos num monte de caras chapados, encostados no meio fio “desafiando o Sistema”. Compadre, o Sistema tá adorando ver isso. Peitar o Sistema é crescer como pessoa e como profissional. Aí então o negócio é fazer parte dele (do Sistema) não se deixando seduzir por miragens. E depois que estiver imerso, roê-lo e corroê-lo por dentro. Isso é desafiar o sistema.
Nada de drogas então?
Também não é assim. Na verdade, vamos confessar. Somos químico-dependentes: de cerveja, vodka, whisky, caipirinha, vinho branco e tudo o que carregue álcool. Mas só nos fins de semana. Aí então, brother, quando nos reunimos pra “bebemorar” algo, consumimos uma quantidade de birita que colocaria em coma alcoólica toda a população da China. Isso só no fim de semana...hehehehehe
Mudando de assunto, como é esse lance dos “medleys”?
Rs rs rs rs... É verdade. Temos um bocado deles no repertório. Funciona assim: A gente começa a montar uma música. Chega em determinada parte, alguém percebe que dá certinho enfiar outra na mesma frase melódica. Coloca-se. Aí, pinta um que acredita que naquele arranjo caberia aquela outra música... Mais uma... Nessa pisada temos nada mais, nada menos que 5 medleys no set list – no repertório da banda. Um de clássicos do Hard Rock, outro que mistura Blues e MPB, mais outro de Rockabilly e... deixa pra lá... Tamo entregando o ouro.
A banda cobra cachê em suas apresentações?
Somente as realizadas na Europa e na América Anglo-Saxã. No Extremo Oriente não nos apresentamos. É longe e não dá tempo pro pessoal chegar em casa e ir pra Universidade. Mas aqui no Terceiro Mundo, por enquanto, não cobramos nada. A falar a verdade, tamo quase pagando pra tocar. Mas deixa estar. Sabe aquele negócio da primeira dose ser de graça? Pois é. Depois que a gente começar e a turma se acostumar, começaremos a encher os bolsos de ouro e prata.
Falando nos shows, o que é o “Projeto Arlequim”?
Muito legal a pergunta. Vocês já perceberam que o ouvinte de Música Erudita, ou de Jazz, por exemplo, mesmo não tocando nada conhece bem o estilo que ouve, os instrumentos envolvidos e o desenvolvimento daquela estética musical? Pois bem. Poucos são os ouvintes de rock que conhecem sua História, as técnicas usadas em sua execução e tudo o mais. Assim criamos o “Projeto Arlequim”. Quando nos propomos a tocar em outra cidade levamos, junto com o show, a palestra “História Social do Rock’n’Roll” e as oficinas de guitarra, contrabaixo e bateria. Tudo voltado para “não músicos” ou iniciantes. E agimos junto às instituições também. Variações do projeto já foram apresentadas à Secretaria de Educação do Município com ótima receptividade. Também no Centro de Formação de Professores e no Núcleo de Cultura-NEC, ambos desdobramentos da UFCG.
Diego, porque o contrabaixo?
Porque odeio bateria e as guitarras já estavam ocupadas. Só sobrou aquela merda. Sério agora. Gosto do baixo. Do seu timbre forte e sem o qual não existe qualquer música. É um instrumento fascinante. E com um overdrive ligado então ... Sai de baixo, se me perdoam o trocadilho, he he he... Mas também faço guitarras e violões.
Essa vai pro João Paulo, o Japa... Japa você é conhecido por vir de uma banda que prioriza o Hardcore e seus correlatos. Como é pra você encarar a proposta do Arlequim que traz em seu bojo um largo leque de estilos e sons?
Olha, se você olhar o meu perfil, aqui mesmo no blog da banda, vai perceber que ouço de tudo. Não faço restrições a estilos e sons... Comecei mesmo tocando pop-rock lá no CEFET. O Hardcore me ensinou muito a nível de disciplina na condução, precisão nas viradas e coisas do tipo. Então pra mim é uma festa tocar com os caras do Arleca. Viajar por outras praias é sempre muito legal. Quando você pensa que não, pow, muda de batida, muda de época. O Arlequim é uma escola pra todos nós que o fazemos.
Agora a "puta velha". Paccelli. Você é o mais experiente de todos. Como fica fazer parte de uma banda onde todo o resto do pessoal tá iniciando?
Olha, é um barato. Com o tempo, a idade, a gente se apega a certas posturas, torna-se um tanto quanto “rígido”. A molecada injeta novos horizontes, flexibiliza a coisa. O que não aprendi de música com esses meninos não está escrito. Se engana quem pensa que a banda gira em torno da “puta velha” do pedaço. O repertório é sugestão de todos. É consensual. As músicas que rolam no show são filtradas pela aprovação dos quatro. Quando alguém sugere algo, não tem aquela de aceitar por educação. A frieza de um já é sinal para que ela – a música sugerida - caia fora. Tive um monte de sugestões não aceitas... E detonei algumas também, he he he... Vocês vão se surpreender com esse pessoal. Tenho o maior orgulho de dividir o palco com eles todos...
Pra terminar. O que o Arlequim tem a dizer ao público, nesse momento?
Sem hesitar, o nosso imenso MUITO OBRIGADO . A todos os amigos e amigas do Orkut, aos que mandam e-mails, que vão aos ensaios. Não sabem como isso é importante pra gente. Suamos um bocado na montagem desse sonho. O Diego e o João Neto trabalham dois expedientes e ainda estudam de noite. O Paccelli tem a Universidade, seus livros, suas crônicas. A Samara trabalha e ainda tem a Maya Jordana (sua filha, onde o Paccelli teve uma fugaz participação na produção) pra olhar. Desde fevereiro que ensaiamos e estudamos nossos instrumentos. Todo fim de semana. O máximo de intervalo entre esses encontros nunca passou de 15 dias. Tudo isso pra montar um show de “responsa”, contestador, mas alegre e solto.
E olha que pintaram dificuldades e decepções. Ainda não estreamos e todos sabem o motivo. Na primeira vez, caiu uma chuva quando a banda, se apresentando ao ar livre, estava na música 1 do repertório. Resultado: 3 minutos de show e ba-báu... Depois, no dia da outra apresentação, a Maya Jordana (filha do Paccelli e da Samara, já se disse aqui) teve de ser hospitalizada. Não bastando isso tudo, recentemente roubaram uma guitarra que a gente comprou em conjunto. Mas tudo bem. O trabalho continua. Tivemos de recusar alguns convites. Não por nos julgar importantes, os reis da bolacha preta. Mas pedimos um mínimo de estrutura nas apresentações. Temos a obrigação de valorizar o estilo musical que representamos (o Rock'n'Roll) e, principalmente, o público que tanto nos apóia. Por ele o Arlequim existe. E por ele continuará trabalhando e buscando a superação. Mais uma vez, muito obrigado aos amigos e amigas.
Longa Vida ao Rock’n’Roll.
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O Manifesto Arlequim
"Arlequim"... O nome é mais que apropriado. O “Arlechino” é um personagem que remonta ainda aos
fins da Idade Média, quando a “Comedia Dell'Arte” envolvia multidões nas feiras. De forma satírica, desfilavam pelo palco os desajustes de uma época, os conflitos entre as classes sociais, além da teia de sentimentos e sensações onde se debatem homens e mulheres.Do vasto elenco da “Comédia”, o “Arlechino” se sobressai. Vestido em retalhos, ele incomoda e deturpa... Engana e é enganado. Em momentos, é a vítima... Em outros, o carrasco. Em momentos, chora... Em outros faz chorar. O “Arlechino” da “Comedia Dell'Arte” é, portanto, o reflexo de todos nós... E assim é a proposta do Arlequim Rock’n’Roll Band. Nossa música é formatada em retalhos de todas as cores e nuances. E tinha de ser assim. Mais que um estilo musical, o Rock’n’Roll é uma constelação de formas e matizes. Talvez exista somente uma “atitude rock”. Mas - musicalmente falando – é engano pensar em um único Rock’n’Roll. A performance do Arlequim Rock’n’Roll Band pretende demonstrar essa variedade de formatos... Podemos levar você a mergulhar no mais profundo de si próprio através da harmonia misteriosa do Rock Progressivo... Mas de imediato lhe resgatamos para o ambiente festivo, óbvio e descomprometido do Rockabilly... É possível expor toda a rigidez do Punk Rock, para, logo então, contrasta-la com a flexibilidade do New Wave... Baixo e guitarras podem gritar com a violência dos “overdrives” abertos, emoldurada pela marcação impactante da bateria. Mas é provável, na seqüência, ouvir o mais delicado timbre “clean” conduzido por uma marcação percussiva discreta e suave... Afinal, somos o Arlequim e suas mil personalidades.... Somos o Palhaço e sua negra e ácida lágrima que se derrama por somente um lado de sua face. E lembre-se que, confortavelmente, nos vestimos de retalhos...
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